domingo, 27 de janeiro de 2013

Caderno de ideias

Num dia desses de domingo tive a ideia de registrar todas as ideias que merecessem a dedicação de um tempo: tanto para pensá-las, quanto para registrá-las, incluindo executá-las (se possível for...), pois afinal quantas e infinitas ideias percorrem os seres a todo o momento e não efetivamente são realizadas, mesmo que um gigantesco potencial tenha a ideia idealizada.
Sendo assim estes imensuráveis ideais quando atravessarem a minha mente terão no mínimo um registro, minha parcela e ponto de vista sobre como poderia realizar o imaginário e fantasioso mundo das ideias.
E no meio desta ideia de registrar todas as ideias surgi outra ideia, que pude concretizá-la, e mais consagrá-la, pois a ideia me pegou de súbito durante a execução, portanto pensei enquanto deseja escovar os dentes, o porque não escova-los, mas não simplesmente, e sim efetivamente escova-los? Assim como se fosse a única e última coisa que deveria fazer.
Logo então fio-de-dente e escova além da pasta dental, já estavam a mão. Apressei-me em entrar ao banheiro, como quem ansiasse iniciar logo algo que desejou a muito atrás e aguardará demasiado tempo para realizar. Sendo assim me coloquei a conhecer cada cen-tí-me-tro da boca. Parecia um território nunca antes explorado com tamanha atenção...
Mais é claro! Antes não estava presente enquanto escovava, estava a pensar sobre o que faria a seguir - mas não agora, não mais! Naquele momento a ideia era estar ali, e ali estava eu, saboreando cada movimento.
Não só a sensação de limpeza me tomava sentido naquele ritual, mas pude reconhecer até nos movimentos das mãos e dos braços um porque naquilo tudo. Senti inclusive qual foi o impulso que moveu não só o homem que criou ferramentas, como a nossa atual escova dental, mas também senti como o primeiro macaco que desejou limpar seus dentes. Um ato primitivo, primário, uma necessidade fisiológica, a lógica seria então que já que precisa, precisa serei.
E fui, e continuarei tentando ser, precisa, presente e se possível for ainda contente e viva, além de Anna Bida nesta vida. :)

2 comentários:

  1. :]

    Sê mesmo o instante. Serena nele. Sê o mistério das pequenas (e grandes) coisas do agora.

    Um beijo na alma.

    "V - Há Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada

    O que penso eu do mundo?
    Sei lá o que penso do mundo!
    Se eu adoecesse pensaria nisso.

    Que idéia tenho eu das cousas?
    Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
    Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
    E sobre a criação do Mundo?

    Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
    E não pensar. É correr as cortinas
    Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

    O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
    O único mistério é haver quem pense no mistério.
    Quem está ao sol e fecha os olhos,
    Começa a não saber o que é o sol
    E a pensar muitas cousas cheias de calor.
    Mas abre os olhos e vê o sol,
    E já não pode pensar em nada,
    Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
    De todos os filósofos e de todos os poetas.
    A luz do sol não sabe o que faz
    E por isso não erra e é comum e boa.

    Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
    A de serem verdes e copadas e de terem ramos
    E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
    A nós, que não sabemos dar por elas.
    Mas que melhor metafísica que a delas,
    Que é a de não saber para que vivem
    Nem saber que o não sabem?

    "Constituição íntima das cousas"...
    "Sentido íntimo do Universo"...
    Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
    É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
    É como pensar em razões e fins
    Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
    Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

    Pensar no sentido íntimo das cousas
    É acrescentado, como pensar na saúde
    Ou levar um copo à água das fontes.

    O único sentido íntimo das cousas
    É elas não terem sentido íntimo nenhum.
    Não acredito em Deus porque nunca o vi.
    Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
    Sem dúvida que viria falar comigo
    E entraria pela minha porta dentro
    Dizendo-me, Aqui estou!

    (Isto é talvez ridículo aos ouvidos
    De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
    Não compreende quem fala delas
    Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

    Mas se Deus é as flores e as árvores
    E os montes e sol e o luar,
    Então acredito nele,
    Então acredito nele a toda a hora,
    E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
    E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

    Mas se Deus é as árvores e as flores
    E os montes e o luar e o sol,
    Para que lhe chamo eu Deus?
    Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
    Porque, se ele se fez, para eu o ver,
    Sol e luar e flores e árvores e montes,
    Se ele me aparece como sendo árvores e montes
    E luar e sol e flores,
    É que ele quer que eu o conheça
    Como árvores e montes e flores e luar e sol.

    E por isso eu obedeço-lhe,
    (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
    Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
    Como quem abre os olhos e vê,
    E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
    E amo-o sem pensar nele,
    E penso-o vendo e ouvindo,
    E ando com ele a toda a hora."

    O guardador de rebanhos - Alberto Caieiro

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  2. Gratidão perpetua, cósmica, metafísica por ter compartilhado Alberto Caieiro! Foi como um presente, ainda mais por te-lo atrelado/associado tão belo texto com meu universo poético... Que possamos trocar ainda mais (agora e sempre)! Abraço grande e fraterno! Namastê

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